Iniciativa hermana17/07/2012 |
País vizinho criou "superórgão" para educar,
prevenir e fiscalizar a segurança viária
Se o Brasil está em busca de um exemplo de que é possível
reduzir a mortandade de trânsito, não precisa ir longe para encontrá-lo. Basta
olhar para a Argentina. Desde que criou a Agência Nacional de Segurança Viária
(ANSV) para centralizar as ações de trânsito, em 2008, o país vizinho colhe
bons resultados em suas ruas e estradas. Houve redução na quantidade de
acidentes e de mortes.
Vinculada ao Ministério do Interior e do Transporte, a
agência é um superórgão sem equivalente no Brasil. Ela atua em áreas como
educação, fiscalização e formação de condutores.
Seu diretor-executivo, Felipe Rodríguez Laguens, apresentará
essa experiência durante o Congresso Internacional de Trânsito Ideias que
Salvam Vidas, que ocorre entre esta terça e quinta-feira em Porto Alegre.
Promovido pelo Departamento Estadual de Trânsito (Detran/RS), o evento trará à
Capital experiências bem-sucedidas na pacificação do trânsito em outros países.
Antes de oferecer sua palestra, agendada para as 10h de
quarta-feira, Rodríguez Laguens concedeu a seguinte entrevista, por e-mail, a
Zero Hora:
Zero Hora — Em quatro anos de existência da agência, já se
percebe algum resultado?
Felipe Rodríguez Laguens — O resultado é positivo. A partir
de nossas ações de educação, prevenção, conscientização, controle e sanção, já
se vislumbram mudanças importantes de comportamento. De 2008 para 2010,
aumentou em 57% o uso de cinto de segurança e em 65% o uso de capacete. Além
disso, a velocidade média caiu 19,5% e o uso de álcool, 44%.
ZH — Houve impacto no número de acidentes e mortes?
Rodríguez — Os estudos para o período de 2008 a 2010 revelam
diminuição de 12% nas mortes. Desde a criação da agência, houve uma redução de
22% nos acidentes de trânsito, enquanto a frota cresceu 14,27%. São dados
alentadores. A ANSV defende que “se é possível evitar, não é um acidente”.
ZH — A que vocês atribuem os bons resultados?
Rodríguez — A mudança de cultura no trânsito depende de
conscientização, acima de tudo de educação. As futuras gerações devem
compreender desde muito cedo os riscos de não respeitar as regras. Por isso,
produzimos materiais para os alunos e os professores de todas as 12.005 escolas
argentinas, públicas e privadas. Isso quer dizer que 109.519 professores e
4.740.218 alunos trabalharam a temática. A agência também patrocina o curso
superior de Segurança Viária, destinado a pessoas e funcionários públicos
ligados à área, ministrado pela Universidade Tecnológica Nacional.
ZH — O Brasil investe há décadas em campanhas de
conscientização, mas o número de mortes não cai. Existem estratégias que não
funcionam?
Rodríguez — Um dos pilares do trabalho em segurança no
trânsito é a colaboração de todos os setores da sociedade. Fazemos isso na
Argentina. Como o desrespeito às regras de trânsito é uma questão cultural, a
conscientização leva tempo. Por isso é importante trabalhar a educação e chegar
até a família.
ZH — Além de educar, é importante punir? O que acontece na
Argentina com quem bebe e dirige?
Rodríguez — A agência executa o Plano Nacional de Álcool
Zero. Nossos agentes realizam controle de alcoolemia em diversos pontos do
território nacional, com o objetivo de prevenir acidentes. Se a presença de
álcool é verificada, recolhe-se a carteira de habilitação. Se não há um
condutor alternativo, o veículo também é retido. Em paralelo, agentes da ANSV
percorrem bares e restaurantes para conscientizar os jovens. Nesses locais,
trabalham para designar condutores responsáveis, que se comprometem em não
consumir álcool. Eles são identificados com uma pulseira celeste. Instalamos
bafômetros na saída de bares e restaurantes, que podem ser usados
gratuitamente.
ZH — No Brasil, ninguém é obrigado a se submeter a um exame
de presença do álcool no organismo. Como funciona na Argentina?
Rodríguez — No nosso país, se uma pessoa se nega a fazer o
exame, presume-se que o resultado é positivo. Nossa legislação estabelece como
limite 0,5 gramas de álcool por litro de sangue para motoristas particulares,
0,2 para motociclistas e zero para motoristas profissionais. O controle da
alcoolemia é extremamente importante. Para cada condutor alcoolizado que morre
no trânsito, há quatro mortos passivos.
Como participar
— O que: Congresso Internacional de Trânsito – Ideias que
Salvam Vidas
— Quando: de 17 a 19 de julho
— Onde: no Centro de Eventos do BarraShoppingSul, em Porto
Alegre (Avenida Diário de Notícias, 300)
— Como se inscrever: por meio do site
— Quanto: a participação é gratuita
ZERO HORA
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