domingo, 6 de abril de 2014

Prefeitura endurece regras para quem suja Porto Alegre

zerohora.clicrbs.com.br | June 4

A partir desta segunda-feira, depositar lixo onde não é permitido poderá resultar em multa de até R$ 4.221,21 — o valor máximo atual é de R$ 950. O ato de lançar uma simples bolinha de papel no chão, por exemplo, será punido com multa de R$ 263,82. É com medidas rígidas como essas que a prefeitura planeja melhorar o visual da cidade. Haverá 33 fiscais do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) para identificar os sujões. Além deles, as câmeras de segurança espalhadas pela Capital ajudarão a flagrar os infratores. Confira abaixo o que a reportagem de Zero Hora viu em visitas a alguns pontos de Porto Alegre durante dois dias na última semana:

Ficou uma situação tensa quando o cidadão que abria a tampa do contêiner na Rua Engenheiro Alvaro Nunes Pereira, no bairro de classe alta porto-alegrense Moinhos de Vento, parou ao ouvir esse meu alerta:

— Sabe que aqui não pode botar lixo reciclável?

Ele ficou quieto. Atrás se aproximava outro rapaz com montes de papelão debaixo dos braços. Eles estavam suados pelo esforço, sérios de tanto exercício para carregar o peso imprestável. Quietos de tão irritados que ficaram. Iam jogar quilos de papelão no contêiner, onde só é permitido deixar lixo orgânico. Um adesivo enorme no equipamento avisa isso, que só pode lixo orgânico. E eles ficaram muito bravos mesmo assim.

— Então vou botar aqui, depois eu pego e coloco no carro — disse o primeiro.

Largaram tudo no chão, perto do contêiner, onde jaziam outras caixas de papelão, garrafas e sacos plásticos. Depois saíram, fulos da vida.

Faz quase três anos que os contêineres foram colocados nas ruas de Porto Alegre e até hoje as pessoas não sabem ou se fazem de desinformadas e cedem à preguiça, depositando material reciclável dentro ou ao lado das unidades. A utilização errada dos contêineres é comum em muitas partes da cidade, seja em rua de rico, seja em rua de classe média, seja em rua de pobre.

A Engenheiro Alvaro Nunes Pereira acompanha a parte alta do Morro Ricaldone. É uma área nobre da Capital. Do outro lado, no sopé do morro, fica a Rua General Neto. Atrás do supermercado Zaffari da Avenida Cristóvão Colombo existe uma área abandonada onde outrora funcionou uma oficina. Hoje, o lixo toma conta do local. Há um catador que volta e meia espalha resíduos por ali, mas gente de posses menos modestas também contribui com o lixaredo.

— Olha esses copos aí — disse um jovem que conversava com um colega, sentado sobre uma laje da antiga oficina.

Passei dois dias circulando por algumas ruas de Porto Alegre com o fotógrafo Mauro Vieira. A frase mais consciente que ouvi foi a de um carrinheiro que acabara de recolher detritos com ainda algum valor, até então abandonados na Rua Coronel Claudino com a Avenida Icaraí, no bairro Cristal, zona sul de Porto Alegre.

— Está crítica a situação, não está? — ele afirmou, conhecedor dos meandros mais sujos da cidade.

O rapaz, que depende de sobras para sobreviver, achava que a sujeirama da Coronel Claudino estava além do limite. Em meio ao lixo desaguava um esgoto composto de um líquido cinza grosso. O cheiro enojava até mesmo os catadores. Eram três àquela hora, no início da tarde da última quarta-feira, à cata das riquezas com que poderiam ganhar o dia: alguma lata de bebida, uma garrafa PET ou, máximo valor possível, um restolho de cobre.

600 toneladas depositadas por dia em locais impróprios

Às vésperas de entrar em vigor o novo Código Municipal de Limpeza Urbana, os focos irregulares de lixo estão por toda parte. Eles entopem bocas de lobo, sufocam córregos e riachos, afastam frequentadores de praças, desvalorizam regiões. A falta de educação também está em toda parte. Ela entope bocas de lobo, sufoca córregos e riachos, afasta frequentadores de praças, desvaloriza regiões.

— O DMLU limpa, mas amanhã já está tudo igual — foi um dos comentários mais ouvidos durante esta reportagem.

O objetivo do novo código, sancionado em 8 de janeiro, é justamente reduzir a quantidade de lixo irregular na cidade. Hoje, são recolhidas 600 toneladas por dia de resíduos despejados em locais onde não deveriam estar — incluindo lixo seco dentro de contêineres —, segundo o diretor do DMLU, André Carús. Em todo o município, há 459 focos crônicos de lixo irregular.

— O desafio é esse. O novo código vem combater os responsáveis por essas 600 toneladas — afirma Carús.

Desde a primeira semana de fevereiro, o DMLU realiza uma campanha de conscientização, já que o maior rigor na punição deve ser apoiada por ações educativas. A campanha termina neste domingo, no Parque da Redenção.

As multas do novo código

INFRAÇÃO LEVE

Depositar, lançar ou atirar nos passeios públicos papéis, embalagens ou assemelhados, fazer triagem ou catação de lixo em logradouros públicos, usar sacos plásticos para acondicionar resíduos orgânicos com capacidade superior a cem litros, vender alimentos de consumo imediato em veículos sem recipientes separados de resíduos orgânicos e recicláveis, com capacidade menor que 40 litros

Multa: R$ 263,82

INFRAÇÃO MÉDIA

Não acondicionar o lixo em sacolas plásticas antes da coleta, não separar os resíduos em orgânico e reciclável, inexistência de recipientes para separação do lixo disponíveis para os clientes em estabelecimentos comerciais

Multa: R$ 527,65

INFRAÇÃO GRAVE

Deixar de depositar os resíduos nos dias e turnos estabelecidos para coleta, tentar entregar o lixo após a passagem do veículo coletor, depositar resíduos sólidos recicláveis no interior dos contêineres destinados exclusivamente à coleta automatizada de orgânicos, depositar, lançar ou atirar em quaisquer áreas públicas ou terrenos resíduos sólidos de qualquer natureza (até cem litros), varrer para os logradouros públicos lixo do interior de prédios, terrenos ou calçadas

Multa: R$ 2.110,60

INFRAÇÃO GRAVÍSSIMA

Descartar resíduos sólidos em locais não licenciados, não embalar materiais cortantes ou pontiagudos, depositar resíduos especiais para os serviços de coleta domiciliar regular, coleta seletiva e em locais não licenciados para este fim, descartar em logradouros públicos resíduos decorrentes de decapagens, desmatamentos ou obras, depositar, lançar ou atirar lixo em riachos, canais, arroios, córregos, lagos, lagoas e rios ou às suas margens, danificar equipamentos de coleta automatizada

Multa: R$ 4.221,21

Preste atenção

As denúncias sobre descarte irregular de resíduos podem ser feitas diretamente pelo Fala Porto Alegre, no fone 156, ou via formulário no site do DMLU, em que podem ser anexadas fotos de ações irregulares e que auxiliem na identificação de infratores.

Um mapa do lixo na Capital

Sete pontos para lamentar

Rua Coronel Claudino com Avenida Icaraí: descartes de materiais com valor relativo atrai catadores a um local onde o lixo se mistura a um esgoto com água de cor cinza

Foto: Mauro Vieira

Vila Assunção, beira do Guaíba: despachos, restos de refeições e churrascos desvalorizam uma região que poderia ser paradisíaca

Foto: Mauro Vieira

Bairro Bom Jesus, atrás do HD Sports: o mato atrás do centro de esportes virou ponto de descarte de material de obra, ao qual se junta animais mortos e lixo de todo tipo

Calçada ao lado do Planetário: lixo espalhado por catadores é costumeiramente recolhido pelo DMLU, mas logo volta a ocupar o espaço

Praça Visconde de Taunay: totalmente depredada, a praça pode acabar virando depósito de lixo, já que nas calçadas do entorno até restos de carros são depositados, como para-choques

Foto: Mauro Vieira

Rua General Neto: antiga oficina virou depósito de lixo aos pés do Morro Ricaldone

Foto: Mauro Vieira

Arroio Sanga da Morte: localizado na Avenida Chuí, se torna uma calda de imundície nas proximidades do encontro com a Rua Curupaiti, onde é possível encontrar restos de comida, animais mortos e uma infinidade de detritos

Foto: Mauro Vieira

Três pontos para festejar

Praça Província de Shiga: em uma investigação quase paranoica, encontramos um papel de bala na praça localizada na Zona Norte. O lugar é tão bem cuidado que em uma tarde havia quatro debutantes fazendo fotos para seus books

Foto: Mauro Vieira

Parque da Redenção: depois da serenata que deixou lixo espalhado pelo local, a área verde estava exemplarmente limpa na última quinta-feira

Parque Germânia: as lixeiras se multiplicam pelo parque, o que é um dos motivos para ser tão limpo

Foto: Mauro Vieira

Quatro pontos de atenção

Praça Mauricio Cardoso: mau uso dos contêineres, apesar de a praça em si estar bem apresentável

Foto: Mauro Vieira

Rua Gonçalo de Carvalho: outra vez, contêineres mal utilizados, mas a rua não apresentava sujeira

Praça Salvador Allende: um ventilador quebrado enfiado em uma lixeira para resíduos orgânicos parece mais uma provocação

Foto: Mauro Vieira

Praça Franklin Perez: localizada em frente à Escola Estadual Santos Dumont, onde vota a presidente Dilma Rousseff, a praça tem lixeiras mal distribuídas, apesar de o local estar limpo durante a visita de ZH, na quarta-feira à tarde. Sobre uma delas, quebrada, um saquinho com cocô de cachorro estava pendurado, como se desse o recado do dono do animal: "A minha parte eu fiz"

domingo, 2 de março de 2014

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Puxando os Freios


puxandoosfreios.blogspot.com.br

Todos os dias, realizamos tantos tipos de atividades diferentes e rotineiras, que acabamos praticamente nos esquecendo que caminhamos até a padaria pela manhã ou que precisamos correr para pegar um ônibus. Porém, quando se têm alguma deficiência física, mesmo as coisas que fazem parte do nosso cotidiano se tornam um esforço muito maior como, por exemplo, fugir de uma chuva de verão.
“Imagine que você não pode entrar em um carro rapidamente quando está chovendo, não consegue andar de bicicleta e boa parte do transporte público não é acessível”, propõe o site do Kenguru, um carro elétrico que quer mudar a vida de cadeirantes do mundo todo. “O transporte é um obstáculo enorme para as pessoas que usam cadeiras de rodas. Muitas vezes é demorado, fisicamente difícil, caro ou simplesmente indisponível. Isso resulta na desconexão com a comunidade, incapacidade para o trabalho e uma menor qualidade de vida”.

O produto é fruto da união do projeto do húngaro Istvan Kissaroslaki e da determinação de Stacy Zoern, uma advogada de Austin, Texas. Depois de quatro anos de busca por investidores, a dupla espera que os seus primeiros veículos adaptados para usuários de cadeiras de roda saiam da linha de montagem em cerca de 18 meses.
Parecido com o irmão mais novo do Smart Car, o veículo, batizado com a palavra húngara para “canguru”, mede cerca de 2 metros de comprimento, 1,5 metro de altura e tem uma porta traseira que abre para cima, através da qual seu proprietário pode deslizar uma cadeira de rodas até o lugar do motorista. Duas baterias elétricas o alimentam por quase 100 quilômetros, a uma velocidade máxima de 40 km/h. Envolto em um casulo de aço e fibra de vidro, o Kenguru deve dar aos cadeirantes um novo tipo de liberdade.
“Honestamente, eu tenho uma doença neuromuscular. Eu não quero correr a 100 km/h na estrada, mas eu me sinto segura indo a 40 km/h em uma rua da cidade, e isso me dá um enorme aumento na minha independência e na gama de lugares onde eu posso ir”, conta a norte-americana que há 13 anos sofreu um acidente em uma minivan adaptada para motoristas com deficiência.
Ela bateu em um meio fio com a Dodge Grand Caravan, estourou um pneu e perdeu o controle da pesada van. Suas mãos voaram o volante, sua cadeira de rodas tombou e o veículo se chocou com um poste. Ela e um amigo ficaram feridos no acidente e Stacy percebeu que a substituição do veículo não seria sensata, tanto por razões financeiras (ele havia custado US$ 80 mil, o equivalente a mais de R$ 190 mil) quanto pela segurança. “A tecnologia ainda não tinha avançado o suficiente para que eu dirigisse”, relembra.
Cerca de uma década depois, em março de 2010, Stacy estava pesquisando transporte acessível para cadeiras de roda e acabou encontrando o Kenguru. Desenhado por Kissaroslaki, que vinha testando e exibindo protótipos do modelo em feiras automobilísticas da Europa há alguns anos, aquilo era exatamente o que a advogada estava procurando. Ela bombardeou o executivo com e-mails, contudo, não obteve respostas. Na época, a recessão global estava atingindo a Europa Oriental e ele tinha acabado de descobrir que tinha perdido 2 milhões de euros de empréstimo com o colapso do banco Lehman Brothers. Stacy ligou para Budapeste. “Ele me disse: ‘Precisamos de uns dois milhões de euros, você só vai poder comprar um [Kenguru] em quatro ou cinco anos, então tenha uma boa vida’, e desligou o telefone”, conta.
Implacável, a empresária de primeira viagem recorreu a um parceiro em seu escritório de advocacia, que era um empreendedor. Stacy era um advogada de patentes que ocasionalmente assumiu casos de direitos civis de deficientes, mas não tinha nenhuma experiência empresarial. “Eu encontrei esse produto que realmente quero e descobri que eles precisam de dinheiro para colocá-lo no mercado. Você pode me ajudar?”, pediu ao colega, que concordou. A partir deste momento, começou o esforço de captação de recursos e, ao mesmo tempo, a insistência para que Kissaroslaki aceitasse a parceria. Quando o europeu cedeu, veio para os EUA, se reuniu com Stacy e foi conquistado pelo seu entusiasmo. No final de 2011, o homem mudou-se com sua esposa e os dois filhos para o Texas.
“Quando você cresce com uma deficiência, tudo é um obstáculo. Eu tenho ajuda para sair da cama pela manhã. Eu recebo ajuda para me vestir. Tenho que programar cada pausa para ir ao banheiro em momentos que alguém forte o bastante para me levantar esteja por perto. Ligar a lâmpada da minha mesa é difícil, colocar papel na impressora é difícil, e por isso você passa toda a sua vida dessa maneira”, explica Stacy.
A captação de recursos para o pontapé inicial do Kenguru não foi fácil. Levou quatro anos para construir uma rede de relacionamentos e convencer os financiadores, que incluem amigos e vizinhos (Stacy também investiu US$ 140 mil, aproximadamente R$ 335 mil). Ela, que esperava o apoio do governo para o que é um projeto sustentável direcionado aos deficientes, revela que ficou surpresa com o pouco apoio disponível, a nível federal. Quando se encontrou com o presidente Barack Obama em um evento para empresários de pequenas empresas, o parlamentar teria ficado impressionado com o projeto e dito que estava ansioso para ver os carros pelas ruas.
Apesar da falta de financiamento do governo federal, grandes fundações ou da indústria automobilística, Stacy e Kissaroslaki conseguiram levantar US$ 4 milhões, em grande parte graças à fértil cultura de start-ups existente na cidade texana. No início de janeiro, anunciaram que iriam começar a receber reservas para os primeiros Kengurus. Os carros vão custar cerca de US$ 25 mil cada, o equivalente a R$ 60 mil, porém muitos compradores podem se qualificar para receber incentivos públicos para a mobilidade e energia verde.
O primeiro modelo terá direção semelhante a de motocicletas e será adequado para motoristas que têm a força suficiente nos membros superiores para controlar o carro. Outro modelo, ainda em desenvolvimento, utilizará um joystick, como no caso de cadeiras de rodas automáticas, permitindo que muitos outros usuários possam operá-lo. Stacy terá o segundo modelo, porque a força superior do seu corpo é limitada, então vai ter que esperar um pouco mais do que a maioria para ter o carro que levou para o mercado. “Eu não vou ter o primeiro veículo, nem mesmo um dos 100 primeiros”.
Até agora, uma das partes mais gratificantes do empreendimento para Stacy são os e-mails e ligações que recebe de potenciais clientes. Ela entende melhor do que ninguém como pode ser ruim para os cadeirantes fazer tarefas simples ou se locomover na cidade. Mais frequentemente do que não, precisam contar com a bondade de amigos e familiares para acompanhá-los até alguma loja, escritório ou um café. Os prováveis clientes que entraram em contato com da empresa são de lugares tão distantes como Austrália e Oriente Médio, esperando ansiosamente sua programação de produção.
Até hoje, a advogada empreendedora já enfrentou uma longa jornada, entretanto isso não a desanima perante às perspectivas futuras. “Estou confiante”, diz, decidida. “O fracasso não é uma opção. Temos 30 investidores. Nós já arrecadamos US$ 4 milhões em todo os EUA. Tudo está alinhado para a gente, pessoalmente, como fundadores desta empresa. E ainda tenho milhares de pessoas lá fora esperando, por isso não desistimos”, comemora. [Kenguru, Nation Swell, Grist]
Fonte: Hipe Science

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Documento de veículo poderá incluir quilometragem rodada

Postado em 23/01/2014

A quilometragem rodada pelo veículo poderá constar do Certificado de Registro e Licenciamento (CRLV), documento fornecido anualmente aos donos de carros que pagam o IPVA e cumprem as demais exigências dos órgãos estaduais de trânsito. A medida visa coibir a adulteração do hodômetro para reduzir a quilometragem percorrida pelo veículo e aumentar seu valor de venda. O registro obrigatório da quilometragem no CRLV consta de projeto que será votado na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), em decisão terminativa. A proposta (PLC 112/2011) foi apresentada pelo deputado Jefferson Campos (PSD-SP), que quer incluir a exigência no Código de Trânsito Brasileiro (CTB - Lei 9.503/1997). O autor explica que as montadoras entregam os veículos com lacre de segurança no marcador de quilometragem para dificultar a adulteração, mas a violação do sistema é “um procedimento relativamente simples para os profissionais do ramo” e que dificilmente é detectado pela pessoa que compra o veículo. O autor sugere que a quilometragem rodada seja verificada como item da vistoria anual obrigatória e a informação seja registrada em campo a ser criado no Certificado de Registro e Licenciamento do Veículo. Atualmente, poucos estados, como Rio de Janeiro e São Paulo, têm a inspeção anual como item obrigatório para a emissão do CRLV. O relator na CCJ, senador Sérgio Petecão (PSD-AC), considera que a medida proposta no PLS 112/2011 resultará em maior proteção aos consumidores de veículos usados. Petecão acolheu emenda de redação aprovada quando a matéria foi votada na Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA).

Postado em Portal do Trânsito.

sábado, 18 de janeiro de 2014

Contramão

CULTURA

O PRAZER DAS PALAVRAS

Na tevê, um ciclista experiente, com cara de quem já pedalou a volta ao mundo, dá um conselho para os mais jovens, tentando ser o mais enfático possível: “Parem com essa loucura de andar na contramão; a bicicleta deve seguir a mesma direção dos demais veículos”. Eu estava zapeando com minha filha e não pude ficar para ouvir o resto dessa oportuna lição, pois uns poucos canais adiante estava começando o filme que procurava. Mas, como se diz, cria de onça já nasce pintada, e minha filha (tem nove anos) não deixou essa passar: “Por que contramão?”. “Ora, porque o carro ou a bicicleta, em vez de andar na sua mão, vai contra ela”, retruco, meio distraído. Resposta errada! Sempre que ela se sente subestimada, lá vem aquele olhar carregado de indignação genuína. “Dããã, pai...”, faz ela, implacável (acabo de ser chamado de tolo). “O que eu quero saber é por que a gente anda na mão!”.

Confessei-lhe que não tinha a menor ideia (o que pôs em seu rostinho um ar de indisfarçável satisfação) e prometi que iria descobrir. Na verdade, ela acabava de levantar uma dúvida que jamais tinha passado por minha cabeça. Fui aos livros, revisei anotações e resolvi escrever esta coluna sobre o tema; assim compartilho meus achados com os leitores e deixo, em letra de forma, um registro para que ela possa lembrar que nós dois sempre soubemos nos divertir com as palavras.

A história de contramão é dividida em dois capítulos, sendo o primeiro absolutamente indispensável para entender o segundo. Começamos por um símbolo tipográfico que certamente todos conhecem, mas cujo nome até hoje não foi bem definido: refiro-me àquela mãozinha com o dedo indicador em riste, na posição característica de quem aponta para alguma coisa. Houaiss chama este caractere de índice ou índex, mas acredito que o nome mais apropriado para ele seria, sem dúvida, manícula (do latim maniculum, literalmente “mãozinha”), e assim o denominam vários trabalhos em Português ligados à impressão e ao desenho de fontes tipográficas. O curioso é que manícula, apesar de registrada em nossos melhores dicionários, ali figura com outros significados que não este (“cada um dos membros anteriores dos mamíferos; “meia luva de couro resistente que protege as mãos dos sapateiros”; “manivela”).

Às vezes esta mãozinha termina abruptamente na linha do pulso; às vezes ela inclui parte do punho da camisa ou da manga do casaco, havendo estudiosos que relacionam a variação de seu desenho através dos séculos com a evolução da moda masculina correspondente. Quando traçada na margem dos manuscritos antigos, a manícula era usada pelo leitor para assinalar passagens de especial importância; com o advento da tipografia, contudo, ela foi ficando cada vez mais rara no corpo do texto, passando a ser utilizada especialmente em cartazes e impressos para indicar direções ou endereços. Talvez estivesse praticamente extinta, não fosse sua espetacular ressurreição no ambiente da informática, onde ela se materializa diante de nossos olhos sempre que o cursor do mouse passar por cima de um linque de hipertexto. Fim do primeiro capítulo.

Em 1857, dois missionários dos EUA, Daniel P.Kidder e James C. Fletcher. depois de passar alguns anos em nosso país, publicaram na Filadélfia um best-seller na época, Brazil and the Brazilians, em que fazem a apresentação do Brasil para o público americano. Ali podemos ver, já nas primeiras páginas, que um dos aspectos urbanos que mais os impressionou foi a reduzida largura de ruas importantes do centro do Rio de Janeiro (mencionam ruas famosas em nossa literatura, como a do Ouvidor, a rua do Rosário, a rua da Quitanda e a rua São José). Contudo, apesar da distância entre as calçadas só comportar a passagem de um veículo, os dois autores observam, encantados, que os brasileiros tinham concebido uma forma de evitar que duas carruagens trafegando em direção oposta bloqueassem irremediavelmente o trânsito: “em cada esquina pode-se ver, com grande destaque, um índex pintado logo abaixo do nome da rua...e o cocheiro sabe que não pode andar no sentido contrário ao do índex sob pena de levar uma pesada multa e perder sua autorização para dirigir”.

Pronto: quem não sabia agora sabe a origem do conceito de mão, de mão única, de contramão. Kidder e Fletcher entusiasticamente sugerem a seus leitores que o “sistema brasileiro” seja adotado em cidades grandes como Nova Iorque, para solucionar os pesados engarrafamentos (na época, é claro) da Broadway... Fiquei felicíssimo com o achado; só não acredito que tenha sido uma invenção nossa porque os países da Europa, que já enfrentavam há séculos esse problema do trânsito em vielas estreitas, devem ter atinado com esta solução bem antes de nós – como sugere, aliás, o emprego de contromano e de contramano no Italiano e no Espanhol, respectivamente.

CLÁUDIO MORENO
oprazerdaspalavras@zerohora.com.br

Artigo publicado no jornal Zero Hora de 18/01/2014.

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