quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Documento de veículo poderá incluir quilometragem rodada

Postado em 23/01/2014

A quilometragem rodada pelo veículo poderá constar do Certificado de Registro e Licenciamento (CRLV), documento fornecido anualmente aos donos de carros que pagam o IPVA e cumprem as demais exigências dos órgãos estaduais de trânsito. A medida visa coibir a adulteração do hodômetro para reduzir a quilometragem percorrida pelo veículo e aumentar seu valor de venda. O registro obrigatório da quilometragem no CRLV consta de projeto que será votado na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), em decisão terminativa. A proposta (PLC 112/2011) foi apresentada pelo deputado Jefferson Campos (PSD-SP), que quer incluir a exigência no Código de Trânsito Brasileiro (CTB - Lei 9.503/1997). O autor explica que as montadoras entregam os veículos com lacre de segurança no marcador de quilometragem para dificultar a adulteração, mas a violação do sistema é “um procedimento relativamente simples para os profissionais do ramo” e que dificilmente é detectado pela pessoa que compra o veículo. O autor sugere que a quilometragem rodada seja verificada como item da vistoria anual obrigatória e a informação seja registrada em campo a ser criado no Certificado de Registro e Licenciamento do Veículo. Atualmente, poucos estados, como Rio de Janeiro e São Paulo, têm a inspeção anual como item obrigatório para a emissão do CRLV. O relator na CCJ, senador Sérgio Petecão (PSD-AC), considera que a medida proposta no PLS 112/2011 resultará em maior proteção aos consumidores de veículos usados. Petecão acolheu emenda de redação aprovada quando a matéria foi votada na Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA).

Postado em Portal do Trânsito.

sábado, 18 de janeiro de 2014

Contramão

CULTURA

O PRAZER DAS PALAVRAS

Na tevê, um ciclista experiente, com cara de quem já pedalou a volta ao mundo, dá um conselho para os mais jovens, tentando ser o mais enfático possível: “Parem com essa loucura de andar na contramão; a bicicleta deve seguir a mesma direção dos demais veículos”. Eu estava zapeando com minha filha e não pude ficar para ouvir o resto dessa oportuna lição, pois uns poucos canais adiante estava começando o filme que procurava. Mas, como se diz, cria de onça já nasce pintada, e minha filha (tem nove anos) não deixou essa passar: “Por que contramão?”. “Ora, porque o carro ou a bicicleta, em vez de andar na sua mão, vai contra ela”, retruco, meio distraído. Resposta errada! Sempre que ela se sente subestimada, lá vem aquele olhar carregado de indignação genuína. “Dããã, pai...”, faz ela, implacável (acabo de ser chamado de tolo). “O que eu quero saber é por que a gente anda na mão!”.

Confessei-lhe que não tinha a menor ideia (o que pôs em seu rostinho um ar de indisfarçável satisfação) e prometi que iria descobrir. Na verdade, ela acabava de levantar uma dúvida que jamais tinha passado por minha cabeça. Fui aos livros, revisei anotações e resolvi escrever esta coluna sobre o tema; assim compartilho meus achados com os leitores e deixo, em letra de forma, um registro para que ela possa lembrar que nós dois sempre soubemos nos divertir com as palavras.

A história de contramão é dividida em dois capítulos, sendo o primeiro absolutamente indispensável para entender o segundo. Começamos por um símbolo tipográfico que certamente todos conhecem, mas cujo nome até hoje não foi bem definido: refiro-me àquela mãozinha com o dedo indicador em riste, na posição característica de quem aponta para alguma coisa. Houaiss chama este caractere de índice ou índex, mas acredito que o nome mais apropriado para ele seria, sem dúvida, manícula (do latim maniculum, literalmente “mãozinha”), e assim o denominam vários trabalhos em Português ligados à impressão e ao desenho de fontes tipográficas. O curioso é que manícula, apesar de registrada em nossos melhores dicionários, ali figura com outros significados que não este (“cada um dos membros anteriores dos mamíferos; “meia luva de couro resistente que protege as mãos dos sapateiros”; “manivela”).

Às vezes esta mãozinha termina abruptamente na linha do pulso; às vezes ela inclui parte do punho da camisa ou da manga do casaco, havendo estudiosos que relacionam a variação de seu desenho através dos séculos com a evolução da moda masculina correspondente. Quando traçada na margem dos manuscritos antigos, a manícula era usada pelo leitor para assinalar passagens de especial importância; com o advento da tipografia, contudo, ela foi ficando cada vez mais rara no corpo do texto, passando a ser utilizada especialmente em cartazes e impressos para indicar direções ou endereços. Talvez estivesse praticamente extinta, não fosse sua espetacular ressurreição no ambiente da informática, onde ela se materializa diante de nossos olhos sempre que o cursor do mouse passar por cima de um linque de hipertexto. Fim do primeiro capítulo.

Em 1857, dois missionários dos EUA, Daniel P.Kidder e James C. Fletcher. depois de passar alguns anos em nosso país, publicaram na Filadélfia um best-seller na época, Brazil and the Brazilians, em que fazem a apresentação do Brasil para o público americano. Ali podemos ver, já nas primeiras páginas, que um dos aspectos urbanos que mais os impressionou foi a reduzida largura de ruas importantes do centro do Rio de Janeiro (mencionam ruas famosas em nossa literatura, como a do Ouvidor, a rua do Rosário, a rua da Quitanda e a rua São José). Contudo, apesar da distância entre as calçadas só comportar a passagem de um veículo, os dois autores observam, encantados, que os brasileiros tinham concebido uma forma de evitar que duas carruagens trafegando em direção oposta bloqueassem irremediavelmente o trânsito: “em cada esquina pode-se ver, com grande destaque, um índex pintado logo abaixo do nome da rua...e o cocheiro sabe que não pode andar no sentido contrário ao do índex sob pena de levar uma pesada multa e perder sua autorização para dirigir”.

Pronto: quem não sabia agora sabe a origem do conceito de mão, de mão única, de contramão. Kidder e Fletcher entusiasticamente sugerem a seus leitores que o “sistema brasileiro” seja adotado em cidades grandes como Nova Iorque, para solucionar os pesados engarrafamentos (na época, é claro) da Broadway... Fiquei felicíssimo com o achado; só não acredito que tenha sido uma invenção nossa porque os países da Europa, que já enfrentavam há séculos esse problema do trânsito em vielas estreitas, devem ter atinado com esta solução bem antes de nós – como sugere, aliás, o emprego de contromano e de contramano no Italiano e no Espanhol, respectivamente.

CLÁUDIO MORENO
oprazerdaspalavras@zerohora.com.br

Artigo publicado no jornal Zero Hora de 18/01/2014.

Pesquisar em Direção Defensiva