domingo, 23 de novembro de 2008

Crianças em risco

Veículo: Correio Braziliense – 20/11/2008



A violência no trânsito é tema que preocupa, assusta e choca. A comoção se deve, sobretudo, à certeza de que os traumas são passíveis de ser evitados. Mas a imprudência, aliada à falta de civilidade, responde pelas estatísticas alarmantes. O asfalto mata, mutila, sobrecarrega o equipamento hospitalar, pesa na previdência e rouba mão-de-obra do mercado de trabalho. Falhas humanas figuram no topo das causas assassinas. Entre elas, ingestão de bebida alcoólica e excesso de velocidade.

O assunto ganha contornos mais lúgubres quando as vítimas são crianças. Acidentes de trânsito são os principais responsáveis pela morte de meninos e meninas de até 14 anos. Pesquisa do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) feita em 12 unidades da Federação mostrou números alarmantes. De 2000 a 2008, 8.029 infantes perderam a vida e pelo menos 180 mil ficaram feridos. O Distrito Federal não apresenta cifras mais confortáveis. No mesmo período, morreram 201 brasilienses de até 12 anos e 5.300 sofreram ferimentos com diferentes graus de gravidade.

Atropelamentos constituem-se os grandes vilões das pistas. Cerca de 50% dos acidentes são a eles devidos. Os registros de 2007 e do primeiro semestre de 2008 mostram que, dos 35 óbitos, nada menos que 17 se deram sob as rodas de veículos, que deixaram 333 feridos só em 2007. Números do Detran confirmam os do Denatran — de 2001 a julho deste ano 155 crianças de até 9 anos perderam a vida em acidentes, 52% das quais em atropelamentos.

Salta
aos olhos que a principal causa da tragédia é a educação. Os pais parecem não se dar conta da necessidade de obedecer às normas do trânsito. Crianças não podem ser transportadas soltas seja no banco de trás, seja no da frente. As menores têm de sentar-se na cadeirinha; as maiores precisam usar o cinto de segurança de três pontos. Até os 10 anos, todas devem ocupar apenas os assentos traseiros.

Atravessar a rua exige aprendizagem. Meninos e meninas têm de aprender a cruzar vias movimentadas com os cuidados necessários. Respeitar o sinal e a faixa de pedestres constitui ensinamento elementar mas indispensável para a segurança do ir e vir. No caso, a família e a escola exercem papel fundamental. Igreja, clubes sociais e de serviço também têm responsabilidade na formação de crianças, adolescentes e jovens. Campanhas educativas — dirigidas a maiores e menores de idade — precisam se tornar rotina no dia-a-dia dos brasileiros. Adquirir novos hábitos é tarefa árdua. No processo, avançam-se dois passos e retrocede-se um. É preciso persistência para atingir o ponto de chegada, que não tem retorno.

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